Monday 26 December 2016

O desabafo

Não sei como era antigamente, mas hoje as pessoas preferem rir do que pensar. Preferem algo que seja um escape a si próprias. Preferem uma fuga da realidade.

Porque se virem a realidade choram.

A realidade dói.

Assim, estamos a tornar-nos numa sociedade que ri e chora. Mas não pensa.

Pensar dói.

Os próprios governos assim querem que sejamos. Tiram proveito de que não pensemos. Até nos alimentam mais distracções através dos media.

Que será dos livros? Livros com mais de um centímetro de espessura; livros sem desenhos; livros de capa feia; livros de assuntos sérios; livros de conteúdo relevante e útil; livros que nos ensinam; livros que não só nos fazem pensar, mas que alteram a nossa opinião pré-concebida?

Que será de nós? Será que a maioria não compreende, que é ao enfrentar a realidade, que a mudamos? Será que a maioria não entende que o que dói é a constante ausência do presente? Será que a maioria não vê que é isso que está a passar às novas gerações?

Como poderia se não faz o esforço para reflectir sobre o que quer que seja? Como poderia, se esta maioria vive no desejo de uma vida melhor sem, no entanto, fazer algo para isso? Tudo o que faz é reclamar da vida e esconder-se atrás de um ecrã. De vez em quando lá joga no Euromilhões, mas sempre a pensar que "nunca sai nada".

Estou cansada de deambular por entre a maioria. Ovelhas, que seguem um qualquer pastor. Geralmente quem ou o que quer que apareça nos media com regularidade.



Se estás a ler este texto, e outros neste blog, fico feliz e agradeço-te. O mundo está nas nossas mãos. Vamos a ele?

Guerreiro & Ribeiro

Guerreiro Ribeiro é o meu nome. Guerreiro e Ribeiro são as minhas famílias. O Guerreiro e o Ribeiro estão dentro de mim. Fazem parte de mim. São o que me compõe. São as partes do meu Eu.

O lado Guerreiro:

Para ele tudo é uma luta, tudo é uma batalha, tudo é perder ou ganhar. Se queres algo, então tens de lutar muito por isso! Tens de ser o melhor. Tens de ganhar. Tens de chegar primeiro. Tudo é difícil, por isso tens de lutar e lutar muito! E uma coisa é certa, o Guerreiro nunca desiste! É lutar até morrer! Assim, com muito suor, trabalho e espírito de luta, o Guerreiro chega onde quer. Sempre. Mas uma vez lá, descobre que há mais lutas pela frente, mais vitórias para conquistar. O Guerreiro não tem tempo para parar e admirar o que já atingiu. Há sempre mais a fazer. Há sempre outra batalha a vencer. Há sempre algo melhor.

O lado Ribeiro:

Este podia ser chamado o lado Zen. Tal como um ribeiro, em que a água brota da terra e simplesmente flui... Há obstáculos, sim. Mas o Ribeiro contorna-os. Faz um desvio maior se for preciso, e está tudo bem. O Ribeiro sabe que é capaz de ultrapassar todos os obstáculos. O Ribeiro sabe que vai chegar aonde e a quem precisa de chegar. Só tem de deixar fluir a corrente de água. Corrente essa que está dentro de si. Corrente essa que é ele próprio. No fundo, o Ribeiro só tem de Ser ele mesmo. Nenhum obstáculo é suficientemente grande para o impedir de chegar aonde e a quem a corrente deseja que chegue.
O Ribeiro também dá de si. Sacia a sede de quem cruza o seu caminho, mas nem por isso fica mais pequeno. Por mais que dê, continua sempre do mesmo tamanho. Por onde passa, a vida floresce e ganha mais cor.

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A minha vida tem sido uma constante discussão entre estas duas partes que me compõem. A mente identifica-se com o Guerreiro. A mente não gosta de incertezas, não gosta de não possuir controlo sobre todas as variáveis. A mente não consegue compreender o "deixar fluir" do Ribeiro. Mas o coração entende.

Olhando para o passado, compreendo que por vezes haja necessidade deste lado Guerreiro. Situações de "fundo do poço", por exemplo, onde estamos por nossa conta. Nessas alturas, é bom saber que ele está aqui.

Quando o Guerreiro exausto de todas as tentativas falhadas, perde as forças e cai; passa por lá o Ribeiro. Na verdade a água do Ribeiro sempre passou por ali. O Guerreiro é que, forçado a parar pela exaustão, só agora se apercebia dela. O Guerreiro ao ver a água, começa a beber dela. Primeiro com dificuldade, está cheio de dores, mas depois torna-se mais fácil. O Guerreiro sabia que estava com sede, mas só depois de começar a beber, se apercebeu verdadeiramente da necessidade que tinha desta água. A água permite-lhe recuperar as suas forças e uma vez sentindo-se fortalecido, o Guerreiro levanta-se e volta à luta.

Uma vez fora do "poço", o desafio é de Guerreiro, passar a ser mais Ribeiro.

Nem sempre precisamos de ser Guerreiro, mas é sempre necessário ser Ribeiro. 

Guerreiro & Ribeiro



  

Wednesday 21 December 2016

A Empregada de Mesa - A Arte de Sorrir e Acenar

Restaurante cheio! Havia, além do nosso, pelo menos outros dois jantares de aniversário.

Ela vinha com cara de quem estava a ter um dia longo...



Nisto, lembro-me de uma aula de coaching. Nessa aula, mesmo a propósito, o meu grupo tinha encenado para um dos exercícios, uma cena num café. A empregada também vinha mal humorada. Mas com boa disposição e um sorriso, tudo ficou bem.

Decidi pôr em prática. Afinal, o que custa tentar?

Pedi um copo de água, com a maior simpatia que poderia imprimir numa tão curta frase, e sorri.

O resultado foi incrível!

No momento em que eu sorri, os seus ombros caíram e ela respirou.
Pareceu-me ver o seu stress a dissipar como uma nuvem... Como se os meus olhos, nesse instante, conseguissem captar a energia (negativa) da qual ela agora se libertava... Terminando mesmo por me devolver o sorriso.

O momento passou. Começou num sorriso e terminou noutro. A azáfama, que ficou suspendida numa respiração (na dela), voltou. No entanto, durante o resto da noite, ela pareceu-me mais leve.

Quanta gente mal-humorada cruza o nosso caminho, a necessitar apenas de um sorriso? Quantas vidas podemos mudar hoje, se proporcionarmos esses sorrisos? E se sorriso a sorriso, pudéssemos mudar o mundo?

Afinal, o que custa tentar?

O Velho e o Cão - A Arte de Sorrir e Acenar

Todos os dias, ao sair da aldeia, passo por um senhor.

Ele sempre sentado no mesmo sítio a ver os carros passar.

Um cão que sempre lhe faz companhia nesse banco.

Aceno e sorrio, sempre sem resposta.

Ele olha para mim, como se estivesse a tentar decifrar quem sou. Será que me conhece?

Há meses que ali passo e é sempre o mesmo. Importará mesmo saber quem sou?

Aceno e sorrio, sempre sem resposta.

Aborrece-me. Perdi o sorriso, mas continuo a acenar porque sim.

Mais de um ano se passou. Já não me aborrece. Continuo a acenar porque sim. Porque cada um deve agir conforme quem é. Aceno porque é o correto. Porque sou assim. Apetece-me ser assim.

Aceno e sorrio.

E então algo mudou.

Hoje ele acenou e sorriu de volta!

Até o cão parecia sorrir com ele!

O que mudou ao longo destes meses todos? O que foi diferente?

Acenei e sorri...

Mas desta vez não esperei nada em troca.

A Vida é assim... Retribui aquilo que damos, quando o fazemos sem qualquer tipo de cobrança. Ou seja, devolve aquilo que somos.