Tuesday 12 May 2015

A Estrada




No rádio uma música toca,
Mas não sei qual é,
Nem se é triste ou animada.

Na verdade,
Estou tão distraída que mal a oiço.
É simplesmente um som agradável
Ao fundo da minha mente.

Os meus olhos focam-se na estrada de alcatrão,
Nas pequenas nuances do chão
E nas linhas tracejadas
Que se vão aproximando de mim
Até desaparecerem.

Lá ao fundo ou a acompanhar a estrada,
Observam uma paisagem
Ora verde,
Ora dourada,
Ora montanhosa,
Ora plana,
Por vezes interrompida com a presença
De animais ou cursos de água.

O Sol brilha lá em cima,
Dando cor
a tudo isto,
E o seu calor aquece-me o rosto.

Levo os vidros abertos,
A temperatura lá fora está agradável
E o vento brinca com os meus cabelos. 

Nos lábios levo um sorriso
E na alma encontro Paz.
Estou feliz.

Ao meu lado não está ninguém.
Por enquanto sigo sozinha nesta viagem
E está tudo bem.

Encontrei a Paz e a Felicidade
Dentro de mim.
Não sofro mais com aquela busca interminável
Da minha outra metade.
Descobri que não sou um ser incompleto e infeliz,
À espera de salvação.

Eu sou eu.
Sou simplesmente eu.
E eu simplesmente Sou.
E sinto-me bem em Ser.
Em simplesmente Ser
Quem simplesmente Sou.

Sigo sozinha nesta viagem
E está tudo bem.
Na minha companhia,
Sinto-me confortável.
Ser esta pessoa é agradável.

Ser esta pessoa é ser alguém
Que traz um sorriso nos lábios
E um brilho especial no olhar.
Mesmo quando viaja sem mais ninguém. 

Por enquanto sigo sozinha nesta viagem

E está tudo bem.
Aquele lugar do lado
Está assim, vazio,
Porque só poderia ser ocupado
Por alguém especial que não interrompesse
O meu silêncio.
Alguém que não interferisse
Com o meu estado de Ser.

Um estado de Ser
Que É simplesmente
E simplesmente É.
É simples aos olhos de quem É,
Complexo aos olhos de quem tenta perceber
Sem o Ser.

Estou feliz em estar Aqui e Agora comigo.
Em qualquer momento da vida
E quer esteja a sós ou acompanhada,
Ser feliz Aqui, Agora e Comigo é essencial.
A companhia, apercebi-me, é secundária.


O tempo passou.

Cheguei ao meu destino.
Comecei a pensar no que tinha a fazer ali
E então, aquele momento voou.

O stress do dia fez dissipar
Aquele estado de lucidez. 
A mente começou a pensar
No amanhã outra vez.

Deixei de viver no Aqui e Agora
Em que tudo está bem,
Em que tudo é perfeito.

O motor parou
E com ele também a minha paz.
Apetece-me voltar para trás,
Seguir sem rumo,
Seguir sem qualquer propósito,
Que não o de Ser.

O destino, apercebi-me, é secundário.

Quero simplesmente ir,
Voltar à estrada.
Fazê-lo não seria fugir
do Presente mas voltar a ele.
Voltar à estrada seria voltar a mim.

E é então que, de repente, me apercebo...
A estrada também é secundária.