Wednesday 27 January 2010

O Sol vontará a brilhar


No meio daquela confusao toda `a entrada da sala de exame olhei para o lado e de repente o exame deixou de ocupar o centro das minhas preocupacoes:

Ele não parece bem...
-Estas bem?
-Não....
-Porquê?
-... (encolher de ombros, abanar de cabeça, como quem diz "não importa" ou "não me apetece falar nisso")

Não disse mais nada. Afinal, quando sou eu, nem sempre quero falar. Perguntei-me se seria do exame ou se algo mais grave e deixei que o exame ocupasse a minha mente novamente. Era a minha vez de entrar na sala.

Quando acabei o exame ele ainda lá ficou... Aquilo não lhe está a correr bem. Passa-se alguma coisa...

Fora da sala estava tudo em alvoroço: correu bem?, a mim correu-me bem, correu-me mal, foi mais ou menos, acho que vou a recurso, o quê que respondes-te nesta?, E naquela?

Depressa me envolvi nesta conversa. Foi só quando cheguei a casa, depois de um longo café com uma amiga que me lembrei dele novamente. O quê que eu, que já passei por tanta coisa junta, mais até do que muitas pessoas com bastantes mais anos de que eu, e que as superei tão bem, lhe posso dizer? Como o aconselhar se eu nem sei o que ele tem! Talvez lhe deva dar o meu exemplo... Contar-lhe a minha história e mostrar-lhe como eu agora superei isso tudo. Contar-lhe quão fundo no poço eu estava e como saí... Mas eu sempre fui tão positiva, nunca me deixei ficar demasiado tempo na depressão, sempre arranjei uma forma de superar os meus problemas, de me superar... Tenho os meus momentos mais negros, mas acabo por ver a luz. Eu sou assim. Faz parte de mim. Mas então e ele? É que foi isso que me ajudou, e me ajuda ainda, nos meus problemas. E também sempre tive alguém com quem desabafar, alguém que sempre me apoiou nas minhas decisões quando todo o resto do mundo se pôs contra mim. Quando todo o resto do mundo me magoou, quando eu perdi a minha fé em mim e no mundo, quando tudo o que desejava era que tudo a minha volta simplesmente desaparecesse e eu mergulhasse num estado de inconsciência, de dormência, longe da realidade; foi o pensamento do que seria o mundo sem mim para essas 2 pessoas que me prendeu à Vida, à realidade. Não podia ser egoísta a esse ponto. Mesmo que a minha vida nunca fosse aquilo com que sempre sonhei, mesmo que nunca viesse a ser tão feliz como sempre idealizara, eu tinha de viver. Por elas. E assim todos os dias e a todo o custo me levantava para um novo dia... Miserável por dentro, mas viva por fora. "The zombie mode" como eu costumava pensar. Ainda assim era capaz de apreciar os bons momentos que passava na escola com os meus amigos. De manha costumava estar bem disposta ao chegar à escola. Mas depois acontecia sempre qualquer coisa para me deitar abaixo num estalar de dedos! Parecia que não podia ser feliz! Isso revoltava-me. Estava a aturar a vida, pelos outros, num acto altruísta, e era isto que eu recebia em troca? Não podia ter um pouco de felicidade sem depois ter de pagar por isso?
Mas a verdade é que a minha recompensa chegou. Estou a vivê-la neste momento. A minha vida não deixou de ser difícil, claro que ainda tem as suas dificuldades, mas eu sei que as ultrapasso facilmente. E eu estou feliz. Estou feliz e não tenho de "pagar" por isso. Na verdade, pode-se dizer que a vida é quem me esta a dever.
E hoje, eu até estou grata por ter passado por tantas dificuldades, pois agora sei que não há nada que eu não consiga ultrapassar. Continuo a ter uns dias mais nublados do que outros, mas nada que perdure por muito tempo. Nesses dias apetece-me ficar fechada no quarto e não fazer absolutamente nada, estou triste deixem-me ficar triste, deixem-me ficar na escuridão por um momento se é disso que preciso para ver a luz mais intensamente. O importante é que eu não me esqueça que o sol vai voltar a brilhar não tarda, e eu tenho de ir ter com ele. Na luz reside a minha felicidade, no sol os meus sonhos. E nesta caminhada que é a minha vida, no meio deste labirinto com desvios atrás de desvios e cheio de caminhos sem saída que nos obrigam a voltar para trás e a dar uma volta ainda maior; eu não me posso é esquecer de ir olhando para cima de vez em quando. Ver a luz... É na sua direcção que estão os meus sonhos. Ela é a minha felicidade.
Para sermos felizes basta seguir a luz, não precisamos realmente de chegar ao sol. É no acto da concretização dos nossos sonhos que reside a nossa felicidade e não no sonho em si.
O objectivo de toda a gente é ser feliz. E para isso precisamos de um sonho e de lutar por ele. E quando concretizarmos esse sonho, precisamos de continuar a sonhar, criando assim um ciclo.
Há sonhos que demoram uma vida inteira a ser concretizados, outros que nunca chegam a ser concretizados, e outros ainda que são relativamente simples de concretizar (mas será a felicidade na concretização deste tipo de sonhos tão grandiosa? Será capaz de nos encher o espírito? Talvez dependa do sonho em si ou se se trata de um meio para atingir um fim maior...).
O importante é sonhar e nunca desistir.
E já que sonhamos, porque não sonhar com algo que torne o Mundo melhor?

Naquele momento o meu sonho era tornar o Mundo de alguém, menos doloroso, dizer-lhe que o sol voltará a brilhar. Não gosto de ver pessoas em baixo, principalmente quando sei que elas seriam capazes de ultrapassar os seus problemas com um pouco mais de optimismo, auto-estima, força de vontade, esperança, fé, se lutassem mais, se vissem a luz! E nalguns casos, se fossem simplesmente mais racionais...

As crianças que morrem devido à fome, que são vítimas de guerra, que vêem os pais dar a vida por eles, para os salvar do sismo, dos bombardeamentos, da fome, que são deixadas sozinhas no meio de um cenário de terror, de destruição e de morte, não tendo para onde ir... Elas sim, têm razão para se sentirem miseráveis e odiar o mundo. No entanto, são elas quem dão mais valor à Vida e às pequenas coisas que a Vida lhes dá, como um naco de pão para comer durante o resto da semana ou duas ou três, como um passarinho bonito a cantar, como uma lata encontrada na rua para jogar à bola com os amigos ou para atar um fio e fingir de carrinho...
O nosso mal é termos tudo e ainda assim nos queixarmos de tudo.

Como não posso salvar o Mundo todo, pensei que pelo menos poderia ajudar mais uma pessoa a ver a Luz. Ajudar a salvar o Mundo pessoa a pessoa. Não há muito mais que possa fazer Agora...
Deixei passar uma oportunidade nesse dia, mas estarei atenta para quando aparecer outra. Enquanto isso, deixo aqui escrito tudo isto que me passou pela alma.


Monday 4 January 2010

Morre Lentamente


Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca,
não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is"
em detrimento de um redemoinho de emoções
justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos
dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se
da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.
Pablo Neruda